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Edição de autor
Janeiro 2023

LordSir SetePeles

Eremus é uma banda da região de Lisboa que surgiu da mente criativa de dois irmãos: Miguel Carneiro na bateria e voz, também dos My Dementia, ex-Frost Legion, ex-Endovelicus, e Vasco Carneiro nas guitarras.

Apresentaram-se pela primeira vez ao vivo a 23 de setembro de 2017 no Le Baron Rouge Rock Hangar em Lisboa, integrando num evento encabeçado por Luxúria de Lillith, banda de culto do black metal brasileiro, com Invoke e Frost Legion. Que tenha conhecimento, esse foi até à data o único concerto que deram, tendo desde aí entrado num limbo. Mas eis que a sete de janeiro nos surgem com o seu primeiro longa duração de nome “Monólogo” numa edição de autor, que em nada perde para qualquer edição saída por uma editora. Esta foi uma agradável surpresa de início de ano.

Os Eremus surgiram em 2016 com uma demo de seu título “Sonhos” que incluía dois temas: “Entre o sono e o sonho” e “Sonho, Não sei quem sou”. Estes temas sofreram nova roupagem e integram este novo trabalho que agora nos apresentam, abrindo e encerrando respetivamente o mesmo. ” Monólogo”, na minha perspetiva, poderá ser considerado um álbum conceptual, não no sentido literal do termo, uma vez que não conta uma história do princípio ao fim. No entanto todo o álbum tem um fio condutor que é transversal a todas as músicas, quer seja pela estrutura das músicas a meio tempo, pela narrativa de uma mente atormentada, que perde a noção do que é efetivamente real ou ficção, bem como pela melancolia inerente a todas as canções.

Vivemos tempos estranhos, quando muitas bandas tentam mostrar que são mais pesadas, mais rápidas e mais técnicas que todos os outros lá da rua deles, desvirtuando muitas vezes a música em detrimento dos dotes musicais dos músicos que integram a formação. Os Eremus em “Monólogo” fazem precisamente o caminho contrário, demonstrando desta forma estarem-se completamente a cagar para modinhas atuais. Elevam assim a sua própria personalidade e identidade e isso é altamente salutar, pois muitas das vezes “menos é mais”. Sendo assim “Monólogo” não nos traz nada de novo nem de revolucionário e aí é que reside toda sua essência, despido de artefactos e truques, limitando-se às bases basilares do género sem, no entanto, deixar de soar atual e fresco. Um álbum que vive essencialmente de paisagens e atmosferas sombrias e desoladoras, com uma aura negra e doentia, que se move maioritariamente a meio tempo, com breves assomos explosivos de uma raiva contida. Para isso também muito contribui a voz de Miguel Carneiro, que embora beba de uma influência direta de uma figura incontornável do black metal lusitano, falo obviamente do Vulturius, não lhe retira qualquer mérito e valor.
Eventualmente poderia aqui destacar uma ou outra faixa, mas não faz qualquer sentido destacar parte de uma obra completa. Ninguém compra uma pintura porque gosta de parte da mesma. “Monologo” é uma pintura que se reveste de várias camadas e pinceladas, todas elas em tons de cinzento e preto, que no seu todo formam uma obra com princípio, meio e fim.

Deixemos então essas mariquices para os entertainers das grandes massas humanas de cérebro oco, da música descartável, que gostam é de luzes de neon e pirotecnia.

Aqui celebramos o breu perpétuo num ritual de negritude e decadência humana.

Eremus – “Monólogo”

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