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Edição de autor
Fevereiro 2023

Rosa Soares

A experiência de ouvir uma banda e um álbum é muito mais que auditiva, começando muitas das vezes por ser até visual: a foto da banda, que nos atraí para o mundo que representa e/ou a capa do álbum. No caso dos Godiva, ambas as experiências visuais são extremamente ambivalentes: se por um lado nos atrai a sua beleza, por outro faz-nos sentir um certo desconforto como se fossemos atraídos para algo malévolo ou animalesco. O que se vem a confirmar com a audição do álbum.

“Hubris” tem algo de sedutor, inebriante, envolvente. Isso é logo destacado no tema de abertura “Death of Icarus” onde as orquestrações assumem uma sonoridade quase épica, emolduradas pela poderosa bateria que transmite uma necessidade de urgência e a voz que nos prende na sua envolvência de grunhido rouco.

Este é um daqueles álbuns que podia ser, mas não é: podia ser um álbum de temas épicos com vozes melodiosas e límpidas, mas não é. Podia ser uma ópera metal com todas as variantes sonoras que as caracterizam, mas não é. E ainda bem que não! Porque é um álbum cheio de orquestrações melódicas, que em alguns momentos nos consegue remeter para bandas sonoras de ficção científica (como em alguns momentos de “Death of Icarus” ou o início de “The All Seing Eye”), com passagens em que  percebemos aquela cadência típica das óperas metal, ora em crescendo de êxtase, ora em declínio de desespero (“Empty Coil”) e com uma voz que assume uma personalidade quase animalesca, contundente, transportando o nosso imaginário para um ser diabólico, algo vampiresco, sussurrante e sedutor.

Um dos temas que destaco é “Godspell”, que ao ser ouvido de olhos fechados e com total entrega à experiência auditiva, nos envolve e transporta para uma outra dimensão. No final, as teclas completam toda a magia e deixam uma sensação de infinitude.

“Hubris” é um daqueles álbuns que se vai descobrindo a cada escuta, composto por várias camadas, onde a própria voz está repleta de variações e intensidades, um daqueles álbuns cuja beleza serve como forma estética de golpear o nosso ser e a sua existência.

Godiva – “Hubris”

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