Edição de autor
Fevereiro 2023
Rosa Soares
“Praise The Sanctity Of Doom • Laus Sanctitas Damnatio” junta nomes bem conhecidos do nosso panorama musical tal como Paulo Pereira, Augusto Peixoto, Gerrit Dries e Leonel Silva
Introspetivo e obscuro, o álbum de estreia dos MementO tem como base inspiracional os sentimentos do ser humano que se manifestam nos momentos emocionais mais conturbados fazendo-nos mergulhar nas profundezas do nosso ser e, consequentemente, despertar fantasmas adormecidos, mas também descobrir luzes que julgávamos apagadas.
“Funeral Invitation • Funus Invitatio”, a espetacular introdução na voz de Gerrit Dries, declamada e sedutora, chama-nos das e para as profundezas. É a envolvência mais que perfeita para nos iniciar no que vamos encontrar de seguida. E o que encontramos é um álbum poderoso, onde a bateria de Augusto começa logo a esbofetear-nos em “Home Of The Lost Souls • Domum Deperditarum Animarum” e só termina algum tempo depois do final do álbum, porque mesmo depois de terminar, o ritmo mantém-se na nossa mente tal como “A Storm In My Mind • Tempestas In Animo”.
“Dark Side Of My Heart • Tenebrosum Cordis” é um dos temas que apresenta uma versatilidade quer vocal, quer instrumental brilhantes. Se até aqui pensava que já tinha ouvido tudo o que era possível na voz de Leonel Silva, o contraste com a sombria voz de Gerrit Dries demonstrou que ainda há muito mais que Leonel pode fazer, sempre com a qualidade a que já nos habituou.
Se “Praise The Sanctity Of Doom • Laus Sanctitas Damnatio” é uma viagem constituída por diversas etapas, “Forgotten Spirits • Oblitus Spiritus” o quinto tema, é a viagem dentro da viagem. Se os espíritos estavam esquecidos, é aqui que todos saem e nos envolvem, numa magia onde jogam connosco e com todas as nossas emoções, deixando-nos como um “Dried Body • Anima Corpus Aridum” reflectido em “Opaque Skies • Opacum Caelum”.
Percebemos que nos aproximamos do fim desta viagem quando a voz de Gerrit Dries nos volta a chamar, grave e profunda em “Several Things That Slowly Die • Pluribus Rebus Quod Tardius Mori [Outro]”, para logo de seguida sermos surpreendidos por algo completamente inesperado, mas muito bem enquadrado no conceito: uma versão de “Sanctuary • Sanctuarium (Sanctuary´s Tribute)”, com a participação especial de Tó Pica no solo de guitarra. Não estamos, no entanto perante uma simples versão pois a banda transforma esta canção em algo muito próprio dos MementO.
“Praise The Sanctity Of Doom • Laus Sanctitas Damnatio” não é um álbum de música! É uma obra de arte visual e musical, onde ambas se unem para nos guiarem numa viagem introspetiva, composta pela dimensão e imensidão sonora e inquieta de Paulo Pereira (guitarra, baixo e teclas), à qual se juntou a obscura e também inquieta mente de Augusto Peixoto (bateria). Leonel Silva e Gerrit Dries, a dupla de vozes de MementO é a perfeita combinação de dois estilos vocais diferentes, que servem na plenitude o jogo de luz e sombra deste álbum, repleto de fantasmas e sombras da alma.
A acompanhar o cd, a edição especial de “Praise The Sanctity Of Doom • Laus Sanctitas Damnatio” traz um livro onde todo o conceito lírico e musical é representado através de imagens, obra do Augusto Peixoto, que ao fim de tantos anos a conhecer a sua arte ainda nos consegue surpreender.
