Este ano o festival Milagre Metaleiro cresceu para dois dias, mudou-se para um novo espaço e manteve-se gratuito. O novo espaço revelou-se bem mais adequado a um festival desta natureza e os dois dias foram na prática dia e meio pois no dia 24 de agosto as atuações começaram perto da meia-noite.
Como este festival está integrado nas festas populares de Pindelo dos Milagres, já é tradição termos um grupo de baile, desta feita os GPS, que nos brindou no final da sua atuação com uma versão de «Alma Mater» dos Moonspell.
Os CRUZ DE FERRO entrariam em palco ao som de «Fúria Divina», já com muito público presente. A voz de Ricardo Pombo falhou algumas vezes, fruto do ventoso frio que se começou a sentir no recinto. Alguns problemas técnicos com o P.A. não impediram de assistirmos a mais uma batalha vencida pelos Cruz de Ferro, ao som de temas como «Imortal», «Morreremos de Pé», «Ritual da Cruz» ou «Entre a Espada e a Parede». Sempre bem-dispostos e muito ativos em palco, os Cruz de Ferro cumpriram de forma exemplar o seu papel nesta noite.
Uma das bandas que mais curiosidade despertava no alinhamento do festival eram os DEATHLESS LEGACY. Com um aspeto visual a ajustar-se na perfeição ao seu horror metal, os italianos deram um concerto inesquecível para os presentes, graças ao dramatismo e encenações que surgiam em palco e, obviamente, a temas como «Rituals Of Black Magic», «Vigor Mortis», «Bloodbath», «Dominus Inferi» ou «Bow To The Porcelain Altar» (que poderão assistir no vídeo a seguir a este parágrafo). A voz de Steva sofreu do mesmo problema do vocalista anterior mas compensou com teatralidade e a simpatia do seu português na única vez que conversou com o público na reta final do concerto.
Já passavam das três da manhã quando os TARANTULA subiram ao palco, visivelmente já pouco habituados a tocar de madrugada. Mesmo assim deram um concerto onde a interligação entre os seus músicos só está ao alcance de um grupo com a sua longevidade. Depois da fase «Kingdom of Lusitania», com «Highway To Glory», «End Of The Rainbow» e «The Great Dragon» a destacarem-se, surgiu um desfilar de hinos como «Freedom Call», «You Can Always Touch The Sky», «Dream Maker» e «Face The Mirror». Pelo meio ficou o ultimo álbum «Dark Age», representado por «Open Your Eyes», «Afterlife» e o tema-título.
Já perto das cinco iniciava-se a atuação dos franceses AEPHANEMER. Com menos público é certo mas um público que estava ali para ver o grupo de death metal melódico, nesta noite em formato de trio devido à ausência do baixista. Por isso a receção à banda liderada pela vocalista e guitarrista Marion Bascoul foi muito calorosa bem como aos temas do seu único álbum «Memento Mori».
stando previsto iniciar-se às 16:00, o segundo dia do festival começaria com mais de uma hora de atraso, com os GODARK a subir ao palco. Justos vencedores do concurso de bandas do festival, o grupo de Penafiel soube conquistar facilmente o ainda pouco público presente graças à força do seu death metal melódico e à empatia gerada pelo vocalista Vítor Costa.
De Espanha chegariam os CENIZAS DEL EDEN com um thrash metal que vive muito dos riffs gerados pelas guitarras dos Muiño (David, também vocalista, e Dani). O intenso calor e o cansaço do dia anterior impediu que tivessem a reação que com certeza esperariam.
Os ZURRAPA, como sempre, fizeram a festa. Indiferentes ao calor e a tudo que lhes aparecesse à frente, o grupo de Viseu transformou o Pindelo no seu salão de festas, com «Escravo do Poder», «Queimei o casaco c’um morango», «Putas, Vinho e Rock’n’Roll» e o final «Zurrapa», com uma literal invasão do palco pelos fãs. Por eles ficariam ali até ao pôr-do-sol e o prolongar da sua atuação causaria mais um atraso nos horários.
Com o novo disco «The Last Dream» editado há pouco tempo, os FANTASY OPUS souberam aproveitar a ocasião para mostrar a sua técnica (a dupla de guitarrista Marcos Carvalho e Ruben Reis é do melhor que vimos nos últimos tempos, tecnicamente falando) e temas como «Realm Of The Mighty Gods», «Chosen Ones», «Heaven Denied» e o saudoso «Mystic Messenger». Leonel Silva fez a sua primeira aparição no palco do Milagre Metaleiro e nem o facto de o público estar dividido entre o concerto e a zona de restauração a ver o Benfica-Sporting o fez desanimar.
Uma boa surpresa foram os DEBLER com os espanhóis a saber aproveitarem muito bem o palco e com uma rodagem bem evidente. Destaque para o vocalista Rubén Kelsen (que levou muita gente à frente do palco para confirmar o seu género) e para o animado violinista Daniel Fuentes com o seu arco luminoso. Pode-se achar demasiado meloso o seu heavy melódico mas estes jovens de Madrid sabem mesmo dar um excelente espectáculo.
Os HOURSWILL tiveram o mesmo azar que os Fantasy Opus (será do vocalista? 🙂 ) pois subiram ao palco no momento em que o FC Porto – Vitória de Guimarães atingia maior dramatismo no resultado. Felizmente muitos estavam ali para ouvir heavy metal e o grupo lisboeta soube transmitir competentemente a densidade do seu heavy metal de tonalidades mais progressivas. As piadas de Leonel Silva foram o contraponto à seriedade com que os Hourswill apresentaram malhas como «Blinding Light» ou «Mass Insanity».
No dia anterior tivemos uma instituição do heavy metal nacional, os Tarantula, e nesta noite tivemos uma das mais antigas bandas de hard’n’heavy nacionais, os JAROJUPE. Enquanto os primeiros sempre se mantiveram no circuito mais pesado, o grupo de Viana do Castelo trilhou outros caminhos, estando atualmente a apresentar o seu mais recente álbum «Crimson». Este disco foi interpretado praticamente na íntegra perante um público que os recebeu de forma acolhedora. Para além dos temas de «Crimson», a banda dos irmãos Parente interpretou ainda músicas do EP «Force Of Nature» de 2016 e «Passa a noite», recordando a fase em que cantavam em português.
Talvez a banda mais aguardada do festival, os italianos ELVENKING não deixaram os créditos por mãos alheias, dando um concerto que Pindelo dos Milagres tão cedo não olvidará. Infelizmente tiveram que encurtar o seu set de forma a compensar o atraso nos horários mas mesmo assim o folk metal de «Invoking The Woodland Spirit», «Pagan Revolution», «Elvenlegions» ou «The Loser» foi mais do que suficiente para por toda a gente a vibrar. Apesar de Damna ter demonstrado algum desconforto pela hora tardia a que estavam a tocar, foi visível no rosto dos músicos dos Elvenking a satisfação pela reação que os portugueses tiveram ao seu concerto.
Os outros cabeças-de-cartaz tinham como principal atração a presença do talentoso guitarrista Victor Smolski, conhecido pela sua passagem pelos Rage. Com Patrick Sühl e Jeannette Marchewka a partilharem as vozes, os ALMANAC conseguiram manter o estado de espírito que vinha do concerto anterior. «Guilty As Charged» e «Hail To The King» brilharam na fase anterior aos solos (guitarra, baixo e bateria), sendo a parte final do concerto, também ele mais curto do que previsto, dominada por «Self-Blind Eyes» e pela interpretação de «Empty Hollow», um original dos Rage.
Pouco antes das quatro da manhã subiriam ao palco os ATLAS PAIN, com o seu folk metal endiabrado a causar muito alvoroço entre os resistentes que saltavam e dançavam em frente ao palco. Baseando o seu alinhamento no álbum «What the Oak Left» os milaneses encerraram em grande mais uma edição do Milagre Metaleiro.
O Milagre Metaleiro continua a ser um daqueles festivais únicos em Portugal, devido à forma hospitaleira e simpática com que o heavy metal é recebido em Pindelo dos Milagres. No entanto, convém no futuro ter mais atenção aos horários para que o festival possa crescer em termos de público. [CG]
Vejam na playlist os resumos dos dois dias e ainda atuações dos Deathless Legacy, Elvenking, Almanac e Jarojupe.