
Ethereal Sound Works
Novembro 2022


Rosa Soares
Lançado a 18 de novembro de 2022, “Malebolge” traz uns My Enchantment com alterações na voz, que é agora do domínio de Fernando Campos também guitarrista da banda. Apesar do registo vocal diferente, Fernando Campos assume muito bem esta sua nova função criando uma dinâmica muito interessante entre o lado melodioso de My Enchantment e a aspereza da voz.
“Malebolge”, um EP com seis faixas, só faz sentido e só é compreendido na totalidade da sua mensagem, quando é ouvido no seu todo. E se quiserem ter uma experiência ainda mais completa e abrangente, oiçam-no depois de terem escutado “Saligia”, o álbum anterior. Porquê? Porque “Malebolge” constitui a segunda parte, de uma trilogia cuja base conceptual nasceu com “Saligia”.
“Malebolge” significa “valas do mal” e é o nome dado por Dante na Divina Comédia ao Oitavo Círculo do Inferno , na qual os pecadores são punidos. Tal como Malebolge (conceito de Dante) é uma caverna em forma de funil que nos conduz ao último círculo do Inferno, também “Malebolge” (EP) nos conduz num caminho de procura de libertação de pecados, caminhada durante a qual nos apercebemos que teremos de pagar pelos pecados cometidos e que a ascensão e saída desta caverna não se faz sem sofrimento. A busca entre a distinção do bem e do mal fazem parte desse caminho a ser percorrido que se inicia com “Penitencia”, a passagem e a penitencia pelos pecados. Tema instrumental, serve de interlúdio para o que vamos ouvir. É uma introdução ao EP, onde estão presentes todos os temas e que faz a ligação a “Saligia”.
Segue-se “Invictus”, poderoso, alusivo à saída das profundezas e à perceção da realidade. Tema agressivo e rápido, no qual a personagem quer seguir em frente e libertar-se do passado. É o tema que representa o sair do poço, o despertar.
“Lex Tallionis”, tema que a banda lançou como apresentação do EP, é aqui apresentada com algumas alterações para além da gravação com a voz de Fernando Campos, que a torna mais obscura e agressiva. O tema representa o julgamento pela Lei de Talião, onde tudo se paga olho por olho e onde a liberdade que se julgava ter alcançado em “Invictus” ainda se depara com um julgamento.
“Mors Magis” é rápida e soa como dois caminhos que se apresentam, destacando-se os diferentes ritmos da bateria, que nos conduz por essa bifurcação de opções. É o tema que traz a tomada de consciência de que o caminho ainda apresenta muitas dificuldades a ultrapassar. A morte torna-se maior que a própria vida. Fugimos ou aceitamos. Os momentos de destaque da guitarra de João Pedro Ribeiro e do baixo de Fernando Barroso acentuam a dualidade sentida.
Com um início orquestral fantástico e uma voz que nos fala das profundezas, “Aeternae Insidae” é o caminho para a penitência cheio de almas que cantam hinos de dor. É o tomar consciência dos nossos atos em vida e de como eles permanecem depois da nossa morte. Neste tema somos envolvidos num instrumental que nos remete para atmosferas de batalhas, onde facilmente conseguimos visualizar seres em luta pelo domínio, uns pelo bem, outros pelo mal, atmosfera essa emoldurada por uma voz que reforça toda a mensagem.
“Malebolge” termina tal como começou: com “Redemptio” um instrumental fortíssimo, cheio de ambientes, e que serve de reflexão sobre o que ouvimos, ao mesmo tempo que faz a passagem para o trabalho seguinte. Deixa em aberto algo que nos conduz e faz de ponte com a terceira parte do conceito, ainda não editada.
Se quisesse definir “Malebolge” fazia-o dizendo que é forte e introspetivo, com atmosferas obscuras onde são permitidos raios de luz. É um caminho pelo interior de cada um de nós em que a saída das trevas, onde por vezes nos deixamos prender, é possível, mas implica um crescimento que não está isento de dor e sofrimento.