
Mars Productions
Junho 2021


Rosa Soares
Os micaelenses Obscenus nasceram em 1993, em Ponta Delgada, Açores, como Blind Death, nome que mantiveram até 1994.
Durante a sua curta existência (ficaram inactivos em 1998) lançaram duas demos “Salvatore” e “Nocturnus Exordio”, das quais fizeram mini-tours, tendo por duas vezes tocado no continente.
“Salvatore” (demo gravada em 1996), está no Lado A da cassete, e é composta por cinco temas, cantados em inglês. O tema homónimo de abertura é um instrumental de bandolim com cerca de dois minutos de duração, que nos transporta para memórias do nosso folclore (enquanto tradições e costumes do povo). Seguem-se mais quatro temas que se em alguns momentos nos remetem para a doçura das paisagens verdejantes e das românticas lagoas açorianas, outros há em que somos dominados pela força de uma erupção vulcânica. Destaco o tema “A Life Time”, com a duração de 6’18’’ ao longo do qual assistimos a uma diversidade instrumental e vocal que quase nos leva a visualizar uma teatralização em palco entre dicotomias como bem e mal ou força e melancolia.
“Nocturnus Exordio” ocupa o Lado B com quatro temas, sendo um deles, “De Uma Serenidade” cantado em português, tema que quebra todas as barreiras da uniformidade musical e apresenta um puzzle instrumental e vocal, onde todas as peças encaixam na perfeição, proporcionando 8’25’’ de deleite auditivo. Esta segunda demo (gravada em 1997) também se inicia com um tema instrumental “Angelica Puritas (Nocturnus Exordio)”, onde as cordas tradicionais assumem, mais uma vez, o protagonismo. O segundo tema “With That Angel” tem algo de hipnótico, tal é a sua força. Depois do instrumental de abertura, levar com a força deste tema, é o suficiente para não nos deixar retirar os auscultadores até a fita chegar ao fim.
A introdução de instrumentos como o bandolim, o violino ou a flauta, trazem ao Gothic Death Doom dos Obscenus elementos mais folk, criando ambiências musicais que recriam as paisagens dos Açores, onde as idílicas lagoas e os campos verdejantes contrastam com a força e violência contida dos vulcões.
É de lamentar o fim precoce dos Obscenus, cuja reedição destas duas demos pela Mars Productions & Museu do Heavy Metal Açoriano, na sua Azorean Heavy Metal “1980 – 2000” Collection é louvável e faz renascer a força do metal insular. Quem sabe, o chão não volta a tremer com a erupção de uma terceira vaga do heavy metal açoriano…