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Masters of Kaos Records
Janeiro 2023

LordSir SetePeles

Se 2022 foi um ano prolífero em edições de black metal de alto calibre, este novo 2023 começa já de rompante a prometer muito e a deixar a fasquia elevada com esta bujarda de seu nome “The Demon Of Hate”.

Se existe banda no panorama nacional que tem vindo a construir toda uma carreira sólida em torno de grandes edições e excelentes prestações ao vivo, essa banda é sem dúvida alguma Sonneillon. Por isso mesmo Sonneillon cada vez mais é referenciada entre outras entidades negras como um dos grandes nomes da nossa cena nacional e que culmina agora nesta excelente proposta. Mas vamos por partes…

Estávamos nós em 2008, portanto 8 anos após o fim do mundo, quando no negro panorama nacional de Black Metal surgem os Sonneillon BM, atualmente apenas Sonneillon de nome, que como referiu um dia em entrevista Bellerophon, fundador, instrumentista e compositor da banda, significa “demónio bíblico do ódio, um dos comandantes das hostes infernais”.

Em quinze anos já nos castigaram com um rasto pestilento de negritude, em três EPs, dois álbuns, bem como inúmeros splits e singles, uma vasta carreira de excelentes lançamentos que demonstra a resiliência de Bellerophon & Cia que, contra ventos e marés, carrega a bandeira de Sonneillon com orgulho e dedicação como de resto devia ser sempre.

Com fortes reminiscências de Immortal e Horna a nível instrumental, mas com composições mais aprimoradas, as suas influências não se ficam por aqui. Mayhem é sem dúvida alguma outra influência mas esta surge principalmente na segunda metade do álbum, onde a velocidade abranda e a máquina se mune de um poder bélico e demolidor que vai arrastando tudo à sua frente num lamaçal de agonia e dor, cadências e vozes proclamadas ao estilo de um  Attila Csihar.

“Aglasis”, com o seu andamento demolidor e doomesco a meio tempo, só por si é mais do que álbuns completos de algumas bandas, causando-nos uma estranha sensação de que estamos a ser teletransportados por um poder maligno qualquer para uma outra galáxia. Mas como sempre digo, uma obra não se faz apenas de uma ou duas músicas e “The Demon Of Hate” tem muito mais para oferecer, num crescendo a cada audição, quando chegamos à musica 7 “Spells in The Bones of Traitors” temos outro grandioso e surpreendente momento com coros cantados com vozes limpas e proclamadas, que cria uma atmosfera épica e megalómana a um álbum já por si enorme em todos os aspetos, só para destacar dois dos grandes momentos que fazem deste uma grandiosa obra.

Uma produção orgânica coesa e contundente que cria uma parede sonora carregada de atmosferas densas pejadas de negritude sem soar demasiado polido, onde se conseguem ouvir todos os instrumentos

Sonneillon não é o típico black metal raw e depressivo a meio tempo com descargas de blast-beats ocasionais, mal tocado e com um som rançoso. Tudo aqui soa nítido e limpo com uma bateria que lhe confere um toque blackened death metal. Os andamentos são na sua generalidade frenéticos e muito bem executados em termos instrumentais, com ocasionais abrandamentos a meio tempo e com atmosferas carregadas de melodias frias e negras. Em resumo um álbum diversificado, bem composto e apelativo que pode e vai com certeza agradar aos já adoradores destas hostes maléficas bem como recrutar novos soldados para as suas fileiras.

Não há dúvida que este é um álbum com muita variação e diversificado que consegue agarrar o ouvinte desde o primeiro minuto e sugá-lo para as suas entranhas para, em 52:17 minutos viver uma experiencia única num turbilhão de sentimentos, paisagens sonoras de uma beleza ofuscada pelo frio e negrume, para no minuto seguinte ser atirado para um poço selvático de cruas texturas que causam uma atmosfera constante de agonia e decadência humana.

Agora que as vossas almas foram purificadas de todos os pecados terrenos, vão lá ouvir o álbum e tirem vocês mesmos as vossas conclusões.

Sonneillon – “The Demon of Hate”

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