Texto: Carlos Guimarães.
Fotos: Rui Podence.
Captação Vídeo: Carlos Guimarães e Rui Podence.
Edição Vídeo: Carlos Guimarães.

O terceiro dia do Z Live começou mais cedo para a equipa do Caminhos Metálicos com uma visita à Plaza Viriato na zona histórica da bela cidade de Zamora. Com a estátua do “nosso” Viriato como cenário atuariam ali em formato acústico os Zenobia e os Gigatron, aqui sob a denominação Bochornorama.

Dos Zenobia ouvimos apenas a parte final da atuação, grupo que esteve em 2022 no Milagre Metaleiro. Neste caso o teor mais meloso da sonoridade da banda encaixa que nem uma luva neste formato acústico.

Os Gigatron pelo seu lado não deixaram os seus créditos por mãos alheias. Com um Charly Glamour muito corrosivo e provocativo e um Dave Demonio a complementar com a sua guitarra acústica, os Gigatron deram uma atuação divertida e que pôs a cantar o público presente. A prova está nestes dois registos em vídeo que captamos e nas fotos do Rui Podence:

Depois do trio de psychobilly Atomic Megalodon e do folk metal dos Ars Amandi, entraram em palco os Opera Magna que já tinham também atuado em Portugal no Milagre Metaleiro do ano passado. Com um power metal sinfónico de qualidade, a banda valenciana tocou malhas como “Heroica”, “El pozo y el péndulo” e “La herida”.

A par dos Leprous, os Persefone foram o outro grupo que atuaria neste mesmo fim-de-semana no Comendatio Music Fest. Oriundos de Andorra, o grupo mistura de forma surpreendente o death metal com o metal progressivo. No Z Live apresentaram já temas do mais recente “Lingua Ignota” como “One Word” por exemplo.

Os Decapitated foram os … Decapitated! Brutalidade, coesão e muita experiência em palco num alinhamento onde não faltaram “Cancer Culture”, “Just a Cigarette”, “Babylon’s Pride”, “Spheres of Madness”, “Iconoclast” e “Last Supper” por exemplo. Apesar de todas as vicissitudes da sua carreira a banda polaca mantém a sua notoriedade dentro do death metal europeu.

Leo Jiménez é um daqueles fenómenos muito espanhol com grande sucesso no nosso País vizinho. Neste dia atraiu muita gente ao Z Live que, pelo que nos apercebemos, veio só para o ver. Este que é também vocalista dos Stravaganzza apresentou-se em palco acompanhado de outros vocalistas, com destaque para Patricia Tapia e Zeta, ambos ex – Mago de Oz. Entre temas do seu atual projeto a solo e do anterior (denominado 037), cantou ainda dois temas de Saratoga (do qual também fez parte), uma versão de “Hijo de la Luna” dos Meccano, terminando com e em “Grande” dos Stravaganzza. Por muito valor que tenha musicalmente o projeto, custa-nos a nós um pouco perceber a loucura dos fãs ao ver este concerto que foi, num exemplo humorístico, algo como os Avantasia do Corte Inglês.

Já há muito tempo que se nota em Nick Holmes algum enfado em cantar os temas mais antigos dos Paradise Lost e em Zamora isso não foi exceção, com a “As I Die” a ser o expoente dessa atitude. Isto contrasta um pouco com a postura em malhas mais recentes como a “Ghosts” (que encerrou o concerto e foi a única do último “Obsidian” no alinhamento) ou “No Hope in Sight”. Na restante banda este comportamento não se nota tanto, especialmente na dupla Aaron Aedy e Greg Mackintosh. Mas com um alinhamento que incluiu temas como “One Second”, “Hallowed Land”, “Say Just Words” e “Embers Fire”, para além do mencionado “As I Die”, com certeza que os fãs não sairam muito defraudados. Nota ainda para a recuperação ao vivo da versão dos Bronski Beat para “Smalltown Boy”, gravada como bónus do “Symbol of Life”.

Os KK’s Priest vivem sobretudo do legado que KK Downing deixou nos Judas Priest e a prova é que após três temas da sua carreira a solo – “Hellfire Thunderbolt”, “Strike of the Viper” e “One More Shot at Glory” – arrancaram com um longo desfilar de temas da mítica banda britânica. Por isso não foi de estranhar que, pelo meio de muita pirotecnia, o público tenha delirado com malhas como “The Ripper”, “Nightcrawler”, “Hell Patrol” ou “Breaking the Law”. Com Tim Ripper Owens a assumir o seu papel de frontman na plenitude pois KK Downing mantém a sua postura sempre mais sóbria, houve tempo no final para ouvir a arrepiante “Victim of Changes” dos Judas Priest e ainda a “Raise Your Fists” do primeiro álbum a solo, dois temas que foram editados com 45 anos de diferença. Só por aqui se percebe a importância e a relevância de KK Downing na história do heavy metal.

Durante mais de duas horas o público do Z Live acolheu e aclamou a atuação dos Avantasia, a banda mais esperada do dia. Um cenário fantástico serviu de fundo para a aventura musical iniciada por Tobias Sammet já no longínquo ano de 2000. Abrindo com “Spectres” surge logo de seguida um dos temas mais emblemáticos da banda, o “Reach Out For the Light”, sem Michael Kiske obviamente, mas com a voz da Adrienne Cowan (Seven Spires). “The Story Ain’t Over” foi cantada em dueto com a voz original, o veterano Bob Catley (ex-Magnum) enquanto Herbie Langhans (Firewind) substituiu e bem o Jorn Lande na longa “The Scarecrow”. O desfilar de clássicos da banda seguiu-se, tal como a constelação de estrelas que pisou o palco como Ralf Scheepers (Primal Fear) em “Alchemy” e “Invincible” e Tommy Karevik (Kamelot) em “Dying for an Angel”. Depois foi o regressar de alguns destes nomes já apresentados para outros temas, com destaque para a soberba interpretação de Herbie Langhans em “Draconian Love” e para a “Avantasia” com Bob Catley. Um dos momentos da noite foi “Farewell” com o dueto com Chiara Tricarico onde o público foi destaque numa coreografia que podem ver abaixo no vídeo. O concerto já ia longo mas ainda houve tempo para ouvirmos temas como “Mystery of a Blood Red Rose”, “Lost in Space” ou “Lucifer” antes da apoteose final com todos os vocalistas em “Sign of the Cross / The Seven Angels”.

É verdade que a voz de Tobias Sammet está um pouco longe da frescura da sua juventude mas não é fácil, mesmo com a colaboração dos convidados, manter o mesmo nível durante bem mais de duas horas no seu registo vocal. A sua qualidade como frontman essa mantém-se intocável. Foi um longo e marcante concerto este, numa noite em que principalmente os que viram Avantasia pela primeira vez irão sempre recordar.

Os The Hallo Effect são um projeto criado pelo guitarrista Niclas Engelin após a sua saída dos In Flames em 2019. Ele rodeou-se de vários outros ex-In Flames, com destaque óbvio para Jesper Strömblad, e de Mikael Stanne dos Dark Tranquility para gravarem o excelente “Days of the Lost” em 2022. Ao vivo, a banda sueca não defraudou com o seu death metal melódico e cativante, onde pontificaram temas do disco de estreia bem como as novas malhas “The Defiant One” e “Become Surrender”.

E para terminar a noite nada melhor que a festa dos Gigatron com a sua irreverente loucura e boa disposição.

E até para o ano Z Live!

Nota final para o excelente trabalho do Rui Podence na cobertura fotográfica do festival.