Left Sun – “Intimacy of Dark”

 

Data: Julho/2024

Edição: Autor

Formato: Álbum

Neste terceiro álbum “Intimacy of Dark” os portuenses Left Sun apresentam-nos um trabalho que combina habilmente elementos do prog/rock clássico com a pop da década de 80 (quando até a pop era melhor que muito do suposto metal da atualidade), criando desta forma um hibrido musical que resulta surpreendentemente bem.

Neste novo disco a banda continua a explorar as raízes do prog/rock que é a sua génese, mas vão muito além disso, extravasando os limites do género.Para isso muito contribui a participação especial de Clara Campos no violino que, criando uma atmosfera de melancolia, enriquece as composições com toda uma panóplia de cores.

O álbum começa enérgico com uma excelente “Repent” que serviu como single de apresentação ao álbum, e mantém a energia e excelência na seguinte “Truth”. Já na “Way” a sonoridade muda para algo mais esotérico, cadenciado e melancólico, para de seguida nos brindarem com uma “Locked”, também ela numa toada a meio tempo, com uma melodia de violino arrepiante, sucedida por um excelente solo de guitarra. “Luminous” é um exercício introspetivo em guitarra acústica, o violino quando entra, volta mais uma vez a brilhar e salva a faixa da mediocridade. “Faraway” é uma balada daquelas de fazer chorar as pedras da calçada, com uma melodia triste, o violino mais uma vez faz das suas, a guitarra a gemer de sofrimento, com letra a condizer, imprópria para corações sofridos e sentimentalistas. Já “Close” por sua vez é um instrumental que traz de volta a energia do inicio, com um excelente riff. A verdade é que todas as faixas, de uma forma ou outra apresentam algo de cativante e o álbum que tem cerca de 56 minutos, passa num ápice, o que por si só significa algo.

Os momentos atmosféricos e introspetivos, intercalados com passagens de uma intensidade sempre controlada, cria uma experiência auditiva multifacetada, prendendo o ouvinte, deixando-o sempre expectante acerca do que virá a seguir para o surpreender. Se tivesse que mencionar uma banda como principal referência e/ou influência direta para “Intimacy of Dark” seria Pain of Salvation. Mesmo que não tenha sido intencional, é para mim inquestionável as semelhanças, sejam elas nas próprias composições como no modo de colocar a voz do Flávio Silva. Não quero com isto dizer que soa a plágio, longe disso, todos nós temos as nossas influências e nos dias de hoje, torna-se difícil ser-se 100% original. Sendo assim a banda faz jus as suas influências, mostrando uma fusão nostálgica que é ao mesmo tempo refrescante e autêntica, que certamente cativará tanto os fãs do prog/rock quanto os de sonoridades mais acessíveis.

Quanto à produção, feita por parte da própria banda, apresenta-se equilibrada e orgânica, onde permite que se oiçam todos os instrumentos com naturalidade, com especial enfase na guitarra, como o rock exige. A voz do Flávio Silva, embora não seja a mais brilhante tecnicamente, encaixa-se perfeitamente no estilo, transmitindo uma entrega sincera e adequada ao contexto do álbum, A impressão geral é de uma banda que possui uma compreensão clara do som que pretende explorar.

Não sendo um álbum perfeito, é um exemplo notável de que em 2024 ainda existe espaço para a criação de rock significativo e relevante. Como critica construtiva, sugeria que a banda explore uma abordagem mais simples e direta em futuros trabalhos, embora a exuberância e a vontade de mostrar a sua versatilidade sejam notáveis, uma abordagem mais focada na fluidez e na simplicidade pode resultar numa obra ainda mais marcante e memorável. Às vezes, menos é mais, e uma abordagem a um estilo mais direto pode ter um maior impacto e relevância no ouvinte, pois que esta sonoridade não é para todo o ouvido, requer tempo, persistência, aprendizagem e compreensão por parte de quem ouve. E, infelizmente nos dias de hoje, estes são atributos que não abundam por aí.

De qualquer forma “Intimacy of Dark” é um álbum bastante sólido e promissor e a banda merece reconhecimento pelo seu esforço e dedicação, mostrando que a criatividade e a paixão pela música permanecem inabaláveis, independentemente das tendências atuais.

LordSir SetePeles

Nota da Review: 8,5
Nota da Equipa: 7,8

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