Phenocryst – “Cremation Pyre”
Data: Agosto/2024
Edição: Blood Harvest Records
Formato: Álbum
Os temas que normalmente gravitam em torno dos álbuns e das bandas de death metal respeitam a morte, violência, as questões sociopolíticas e aludem à atividade bélica. Por sua vez, os lisboetas Phenocryst assumem uma nova temática na esfera do metal – vulcanologia – abordando as alterações climáticas, o elemento do fogo, a aniquilação provocada pelo mesmo, assim como outros fatores correlacionados com um dos mais antigos elementos naturais.
Após o lançamento do seu EP, Explosions (2021), o quarteto lusitano decidiu imbuir-se na produção do seu primeiro e afamado disco, Cremation Pyre (2024), e conciliar um death metal moderno e técnico que visa as mesmas temáticas acima mencionadas. Com o cunho da editora sueca Blood Harvest, somos brindados com oito faixas plenas de destruição, nas quais a perícia dos blast beats de Artur são notáveis e encaixam que nem uma luva ao sincronizar com a destreza das guitarras de Jorge Santos e D.S. Indubitavelmente, os Phenocryst equiparam-se aos seus pares portugueses, chegando a partilhar o trono ao lado de Holocausto Canibal, Colosso, entre outros.
Se no disco antecessor temos um grupo com uma tremenda vontade em apresentar-nos um Portugal rico em bandas emergentes destes estilos, sobretudo na produção sonoridades mais modernas, Cremation Pyre (2024) traz-nos uma banda mais amadurecida e que compila a sua experiência adquirida durante a pandemia num álbum mais cru, com riffs de guitarra rápidos e dotado de uma voz gutural digna que mais parece vir das profundezas da Terra. Destacamos as faixas “Pyres of the Altar”, cujo início somos logo capturados pela mestria de D.S. na guitarra e rapidamente catapultados para os blast beats da bateria; “Volcanic Winter”, pelo contrário, arranca com uma cadência instrumental mais morosa, mas que consegue mesclar com um death metal acelerado e até industrial; “Fogo nas Entranhas”, uma honrosa menção à língua portuguesa, assim como a um ativo vulcão na Ilha de Java, na Indonésia, é totalmente cantada em português e que comporta a integração de elementos naturais, como por exemplo a trovoada; “Pyres of Altar” conta com a colaboração de Belathauzer (Filii Nigrantium Infernalium) Fernando Matias (Sinistro) e Jorge Santos (entrada mais recente em Phenocryst e tocar ao vivo). A componente lírica, da autoria do vocalista e guitarrista, faz-nos recordar um cenário apocalíptico e desolador, típico de um filme de George Miller ou John Carpenter, no qual o fogo é, novamente, o elemento imperativo na criação e destruição.
Não obstante, desta vez na esfera estética do álbum, contamos com a participação de Anvil Kvlt (Coffin Dust, Earth Plague e Rapture Messiah) na conceção da capa e pintura a óleo de James Campbell, uma autêntica alegoria às pinturas surrealistas do polaco Zdzisław Beksiński. O magma que corre pela montanha abaixo, invoca um cenário de extinção devido ao vulcão em erupção que se encontra no sopé da montanha. Lançado a 30 de Agosto de 2024, existem três versões de cor diferente em formato LP, juntamente com um novo merchandise alusivo ao mesmo. Um death metal cavernoso, destrutivo e decorado com letras vulcânicas, capaz de imolar qualquer ouvinte devido à sua complexidade lírica, técnica e precisão. Embora sendo uma banda embrionária, o futuro aparenta-lhes ser promissor.
André Neves
Nota da Review: 8,5
Nota da Equipa: 8,2